Geralmente, quando definimos a enxaqueca crônica descrevemos os sintomas como dores de cabeça, geralmente unilateral e acompanhada por náuseas, vômitos, sensibilidade à luz, ao som e cheiros. Porém, nos esquecemos das comorbidas que caminham junto com a dor.
Comorbidades são duas ou mais doenças que tem a sua origem interligada, como a prevalência de depressão em enxaquecosos ser maior, por exemplo, assim como a tendência de apresentarem dores no pescoço que podem ser associados à problemas posturais. A ansiedade, estresse e depressão tem gerado debates sobre mecanismos de gatilhos das crises de dor de cabeça.
“O que os pesquisadores têm visto é que além de possíveis questões genéticas e hereditárias, fatores comportamentais e as comorbidades ligadas a desordens psicológicas estão conectadas ao desenvolvimento da doença¹. Já se sabe, por exemplo, que a relação entre enxaqueca crônica e depressão pode ser até quatro vezes maior do que na população geral, somando-se também aos sintomas de ansiedade²”, afirma a neurologista Dra. Maria Eduarda Nobre (CRM 589468-RJ).
A médica explica que questões comportamentais interferem diretamente na forma como o paciente lida com a doença, mais positiva ou negativa, impactando na aceitação e no seguimento correto do tratamento, sendo comum pacientes com pensamentos mais negativos não enxergarem melhoras e abandonarem o tratamento antes de readequações.
Acontece que o corpo humano é um organismo extremamente interligado e equilibrado, quando algo não vai bem em alguma parte do corpo, outras partes vão acabar sendo impactadas. Essa ligação explica a necessidade de uma medicina multidisciplinar e integrativa para o tratamento da enxaqueca crônica, que alie a atuação do médico neurologista ao acompanhamento de psicólogos, fisioterapeutas e nutricionistas.
A fisioterapia tem se revelado uma grande aliada no tratamento da dor crônica de maior intensidade³, agindo tanto no mapeamento de fatores que desencadeiam a tensão muscular, que podem ser causadas pelo estresse, como também para ajudar o paciente a lidar com a dor durante a crise.
Segundo o estudo publicado nos Arquivos de Medicina Física e de Reabilitação, que contou com a participação da fisioterapeuta Débora Bevilaqua Grossi (CREFITO – 13716-F), mais de 80% dos enxaquecosos apresentam dores no pescoço que podem ser associados à problemas posturais4, para os quais se tem indicado terapias especificas para relaxamento e fortalecimento muscular, com bons resultados.
“Tanto os músculos do pescoço como os da face podem desencadear crise, pois podem enviar informações dolorosas que chegam diretamente em uma área onde também chegam as informações dos vasos das meninges, chamada de núcleo trigeminocervical e assim sensibilizar a área, facilitando que uma nova crise seja deflagrada ou contribuindo para a piora das crises”, relata a fisioterapeuta.
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Por isso, dentro das opções terapêuticas complementares para a enxaqueca devem ser incentivadas a prática de atividades físicas regulares, a adesão de um hobby que proporcione prazer e relaxamento mental, por meio de boa rotina de sono, a adoção de alimentação equilibrada e funcional, bem como ao consumo abundante de água.
“Os tratamentos adjuntos são importantes aliados à medicina tradicional e algumas outras opções mais avançadas, como o advento dos últimos anos da toxina botulínica A, que não atua apenas em relaxamento muscular como muitos pensam, mas especialmente no bloqueio de neurotransmissores ligados ao mecanismo de dor”, explica a Dra. Maria Eduarda.
Taís Cruz – MTB 0083367/SP
Referências
¹Peres MFP, Oliveira AB, Mercante JP, Kamei HH, Tobo PR, Rozen TD, Levin M, Buse DC, Lucchetti G. Optimism, Pessimism, and Migraine: A Cross-Sectional, Population-Based Study. Headache. 2019 Feb;59(2):205-214.
²Buse DC, Manack A, Serrano D, Turkel C, Lipton RB. Sociodemographic and comorbidity profiles of chronic migraine and episodic migraine sufferers. J Neurol Neurosurg Psychiatry. 2010 Apr;81(4):428-32.
³http://www.baruco.com.br/blog/RCT-migranea.pdf
4http://www.baruco.com.br/blog/Florencio_2019.pdf