Talvez você já saiba que alguns estilos musicais ajudam a relaxar o corpo e a mente, mas você sabia que hoje existem estudos relacionando a música ao alívio das dores crônicas? Convidamos a enfermeira Dra. Eliseth Ribeiro Leão, autora do livro “Cuidar de pessoas e música: uma visão multiprofissional”, para nos explicar como funciona essa relação. Confira:
Enxaqueca Crônica (EC): É verdade que a música pode ser benéfica para o corpo?
Dra. Eliseth: Sim, a literatura já indica diversos benefícios a partir da utilização da música. Entre eles nós podemos observar a redução da pressão arterial, da frequência cardíaca e respiratória, relaxamento muscular e aumento de energia. Muitos dos sinais fisiológicos observados no corpo são consequência dos efeitos na dimensão emocional, como redução de estresse, ansiedade e depressão. No entanto, isso ocorre com estilos musicais específicos.
EC: Por que a música pode ser utilizada no tratamento da dor?
Dra. Eliseth: Porque o processamento da experiência musical pode auxiliar na produção de endorfina, que é nosso analgésico natural e, por isso, um recurso complementar para o tratamento da dor. Isso acontece porque o estímulo intenso através do tálamo, mesencéfalo e tronco cerebral causam a produção de substâncias moduladoras (como endorfinas e serotonina), que inibem a liberação dos neurotransmissores e da dor.
EC: Então existe relação entre a música e o bem-estar?
Dra. Eliseth: Sim, estudos nacionais e internacionais apontam para o relaxamento que a música pode proporcionar, o que nos conduz ao bem-estar físico, sobretudo às emoções que as músicas desencadeiam, promovendo estados afetivos mais positivos.
EC: E qualquer tipo de música pode desencadear esse relaxamento e ser usado no tratamento da dor? Por quê?
Dra. Eliseth: Não. Para o entretenimento, a preferência musical pode oferecer uma experiência estética positiva e prazerosa porque nós ouvimos o que gostamos.
No entanto, quando pensamos na música como um recurso complementar no cuidado à saúde, devemos ser mais cautelosos na escolha de repertório, uma vez que as estruturas musicais têm potencial para gerar determinadas emoções. É preciso ter consciência sobre a influência que cada música exerce nas diversas dimensões humanas (física, mental, emocional e espiritual).
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EC: E quem sofre com dor de cabeça, que tipo de música pode agregar ao tratamento?
Dra. Eliseth: É importante escolher algo com melodia suave, preferencialmente com poucos instrumentos musicais, como voz e violão ou outro instrumento de acompanhamento, sem instrumentos percussivos ou estridentes, de andamento lento que facilite estados de relaxamento (de 40 a 60 batidas por minuto). Esse tipo de música, por exemplo, auxilia em casos de cefaleia tensional porque quebra o ciclo dor-ansiedade-tensão. Nosso cérebro tende a sincronizar as ondas cerebrais com estímulos ambientais e, dentre eles, está o som.
Esses cuidados são de particular importância também na enxaqueca crônica que se manifesta de forma pulsátil e latejante. Portanto, os estímulos devem ser mais suaves ainda, sendo que em muitos casos, o silêncio também pode ser muito bem indicado.
Para a melhora significativa e alívio das dores é necessário o acompanhamento com neurologista, mudança de hábitos e comprometimento. Temos certeza que você pode viver bem e sem dor. Conte com a gente!
O texto acima possui caráter exclusivamente informativo. Jamais realize qualquer tipo de tratamento ou se automedique sem a orientação de um especialista.
Referência
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4. Oelkers-Ax R, Leins A, Parzer P, Hillecke T, Bolay HV, Fischer J. Butterbur root extract and music therapy in the prevention of childhood migraine: an explorative study. Eur J Pain 2008 Apr;12(3):301-13.